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Bets mergulham na vaquejada e se misturam a políticos em leilões de cavalos milionários

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As bets, que movimentam um mercado bilionário no Brasil, entraram forte, em 2023, em uma modalidade que mistura tradição popular do Nordeste, negociações milionárias de cavalos de raça, políticos poderosos e empresários investigados. Neste ano, as casas de apostas “descobriram” a vaquejada.

Em um movimento inédito, os sites de apostas passaram a movimentar competições e leilões de animais, espaços de poder e prestígio frequentados por lideranças políticas de Brasília, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, e por personalidades como o cantor Wesley Safadão, um dos maiores agitadores do setor.

O mergulho mais profundo das bets no mundo da vaquejada ocorreu no segundo semestre, quando surgiram competições patrocinadas, arena e equipes próprias. Em paralelo, as casas de apostas lidavam com fatores cruciais aos negócios: a pressão de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) aberta na Câmara e a definição de uma regulamentação do setor pelo governo federal. O Senado deve votar nesta semana um projeto que cria regras e impostos.

“De três ou quatro meses para cá, a gente tem visto a presença desse pessoal da aposta”, afirmou Pauluca Moura, presidente da Associação Brasileira de Vaquejada (Abvaq), entidade responsável pelas regras das competições oficiais, ao Estadão. “Isso é muito novo para a gente, incomum na vaquejada. Preocupa um pouco, pelo que vem junto com a aposta. Ainda não sei como vai se comportar”.

Além de patrocinar a principal competição de vaquejada do País, as casas têm promovido campeonatos com regras próprias para facilitar o entendimento de apostas. Um dos principais nomes da vaquejada, Pedro Militão disse que a entrada dos sites “elevou” a prática “a um patamar nunca visto”.

“Temos vaqueiros com salários que a gente nunca imaginou que fosse ter. Tem outdoor com vaqueiros, eventos com premiação de R$ 500 mil, de R$ 1 milhão”, disse. “Acredito que risco (de fraude) ocorre em todos os meios. Tem risco de um prédio cair, de um avião cair. Em relação à combinação, se depender de mim e dos vaqueiros da Bet Favorita (patrocinadora dele), isso aí não acontece, não”.

A vaquejada surgiu há mais de cem anos, advinda da habilidade de sertanejos na apartação de bois. Montados a cavalo, os vaqueiros cercam o animal e, pelo rabo, o colocam no chão. A tradição foi transformada em um esporte que movimenta, só com inscrições e premiações, cerca de R$ 800 milhões por ano. A força e velocidade dos cavalos são determinantes para que os vaqueiros derrubem os bois, cada vez maiores. A genética dos cavalos da raça Quarto de Milha é a mais cobiçada em leilões.

A tradição é importante para políticos, sobretudo os da região Nordeste, onde as vaquejadas são mais fortes. Em 2016, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a modalidade. Contrariada, parte da classe política se movimentou para reverter o quadro com uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que garantisse a legalidade da prática. Em 2017, o Congresso promulgou a Emenda Constitucional 96, que liberou vaquejadas e rodeios em todo o território brasileiro, tornando sem efeito a decisão do Supremo.

O animal mais caro já negociado no Brasil foi avaliado em R$ 8,4 milhões. Se depender do poder financeiro das bets, os valores serão empurrados para cima. Empresários da Pixbet e da MarjoSports, famosos sites de apostas do País, fizeram a maior oferta pública dos últimos tempos por um único cavalo: R$ 15 milhões. Eles pretendiam comprar o Dom Roxão, considerado um dos mais lendários garanhões da raça, mas o proprietário recusou a oferta.

A MarjoSports é administrada pelo empresário Jorge Barbosa Dias, que tem negócios nos setores de construção, agropecuária, veículos e postos de gasolina. Dias foi alvo da operação Game Over, do Ministério Público de Pernambuco (MP-PE), em 21 de dezembro de 2021, investigado por contravenção penal de jogos de azar, crimes de lavagem de dinheiro e crimes de organização criminosa. A acusação foi recusada pela Justiça e o MP-PE recorre da decisão.

A empresa foi uma das primeiras a fechar contrato de publicidade com o cantor Wesley Safadão. O artista tem participado de competições e se consolidou como um dos maiores criadores de Quarto de Milha do País. Safadão se tornou um elo entre políticos, criadores, outros artistas e donos de casas de apostas. Esses personagens costumam se encontrar nos grandes leilões promovidos pelo artista. O último, no mês passado, movimentou quase R$ 29 milhões.

Consultor de compra e venda de cavalos, Marcelo Frazão vê com ressalvas a onipresença das bets no meio. “Enquanto eles não interferirem no resultado, é bom, né? Se começar a interferir no resultado, o pessoal vai começar a achar sem graça e (o esporte) entra em decadência”.

“Temos vaqueiros com salários que a gente nunca imaginou que fosse ter. Tem outdoor com vaqueiros, eventos com premiação de R$ 500 mil, de R$ 1 milhão”, disse. “Acredito que risco (de fraude) ocorre em todos os meios. Tem risco de um prédio cair, de um avião cair. Em relação à combinação, se depender de mim e dos vaqueiros da Bet Favorita (patrocinadora dele), isso aí não acontece, não”.

Do Estadão

Serra FM

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